quinta-feira, 7 de junho de 2018

ANÁLISE DO CONTO “PERSEGUIDO POR UM APELIDO”, EXTRAÍDO DO LIVRO "TESOURO ENTERRADO E OUTRAS ESTÓRIAS", DO ESCRITOR NALVO FRANCO DE ALMEIDA






       
       O livro  Tesouro enterrado e outras estórias é escrito por Nalvo Franco de Almeida, cuja edição é do próprio autor: eletrônica feita com pdftex e texlive 2014, localizada na cidade de Campo Grande – estado de Mato Grosso do Sul. Sua publicação ocorreu no ano de 2015.

         O escritor Nalvo Franco de Almeida é um baiano de Jacobina, que chegou a Mato Grosso em 1953. Foi radialista, vereador e formou-se em Direito em 1976. Fixou residência em  Campo Grande, e atualmente, dedica-se à leitura, a ouvir músicas e escrevendo, conforme informações que constam em sua obra Tesouro enterrado e outras estórias.

       No livro em questão, Nalvo fala com grande emoção ao lembrar seu nordeste. Escolheu o título Tesouro enterrado por causa de um conto com o mesmo nome e também porque quando era criança, diziam a ele que antigamente existia uma tradição que as pessoas enterravam seu dinheiro e quando essa pessoa morria ninguém achava esse tesouro, por isso viravam assombração. Grande parte dos contos acontece em Lagoa Seca (lugar fictício). Porém o conto  Tesouro enterrado ocorre em Minas Gerais.

O livro possui 155 páginas, compostas de 19 contos, que segundo Gancho, (2002 p. 8) trata- se de “uma narrativa mais curta, que tem como característica central condensar um conflito, tempo, espaço, e reduzir o número de personagens. 

É uma narrativa tradicional e que pode abordar qualquer tipo de tema”. Possuem como características, sendo o espaço restrito, o tempo pode dar-se num pequeno curto, além de ter o número de personagens reduzido, alguns atuam com diálogo, enquanto outros funcionam como pano de fundo. 

Normalmente é narrado em terceira pessoa e sua linguagem é direta, concreta e objetiva. Contos, nos quais apresentam como protagonista a figura do nordestino. Homem comparado a planta nordestina: o cacto, que segundo o autor “Homem e planta sobrevivem diante de secas prolongadas”.

O autor empenha-se de uma maneira ímpar, trazendo o riso e a reflexão sobre certos nomes. Tal ponto pode ser retratado no conto “Perseguido por um apelido”, no qual aparecem os nomes de Zé do bar, Zé Ferreira, Zé Sapateiro ALMEIDA, (2015, p. 55) e também podemos identificar essa forma de diferenciação de indivíduo não somente por ser igual, mas também por conta de alguma situação ridícula, como João Galinha ou Zé da Cabrita ALMEIDA, (2015, p. 55).

O conto selecionado para realizar a análise intitula-se Perseguido por um apelido (p.55), que serão apresentadas e explicadas por meio de autores que abordam teorias da narração, tais como Candida Vilares Gancho e Gerald Genett.

        Os personagens, segundo (Vilares, 2002. p. 14) é um ser fictício que é responsável pelo desempenho do enredo. É quem faz a ação, sendo divididos em protagonista (herói, anti-herói)  os antagonistas e secundários (p. 14-16) e caracterizam-se como plano, tipo, caricatura e redondo (p. 16-18)

* Silvina, apresenta característica física: crioula e muito bonita. Não era necessário um adjetivo para então identificá-la, mas como tinha a cintura fininha e a “bunda” muito grande, era chamada de Silvina Tanajura.

* Valdemar Palmeira e Lindinha, sua esposa (secundário). Valdemar era muito alto. Já tinha um apelido pronto, Palmeira, mas sua esposa Lindinha era muito baixa e devido a esse fato, mudaram o nome do casal, assim sendo conhecidos como Zé Palmeira e o coqueiro anão.

* Maneco-(protagonista)Tinha um nome forte: Manoel dos Santos da Anunciação, porém por ter uma mãe viúva e respeitada, Dona Loura, o chamavam de Maneco de Loura. Casou-se com Luzinete e então tentaram apelidá-lo de Maneco de Luzinete, mas não houve sucesso. O personagem apresenta características físicas: forte, saudável e tinha bom porte físico. Mas tinha fama de folgado. Gostava de nadar. Teve seu nome mudado nesse conto por conta de uma situação inusitada, agora o chamavam de Maneco meio pau, e por isso sua vida desandou, agora tornara se um homem “brabo”, mal-humorado, xingava e brigava.(característica psicológica)

* Luzinete. Mulher de Maneco. (característica social): Era professora e, quem provinha o sustento da casa (p.58). Não tinha filhos com Maneco. Abandonou Maneco com o circo que chegara na cidade (p.62)

* Traíra: (secundário) peixe de água doce que se adapta em tanques e lagoas (p.58). Considerado de segunda linha por uns, mas apreciado pelo povo nordestino. A traíra descrita pelo narrador tinha uma fome impressionante, e que arrancara um bom pedaço de um membro muito importante para Maneco. É a causadora de sua nova apelidação neste conto.

* Dono do circo. Era polivalente: palhaço (chamado petisco),  animador, ator e cantor (chamado Bob Johnny), que por sua vez, foi com ele que Luzinete, a esposa de Maneco, se foi junto ao circo.

Outros personagens secundários: velhos vagabundos, moça do trapézio, rumbeira, Rafael, Anastácio e Nadinho.

      Narrador, segundo (Vilares, 2012, p. ) é o elemento estruturador da história, e são utilizados dois termos para designar sua função, que é foco narrativo ou ponto de vista, ou seja, o ângulo de quem conta a narrativa, que para GENETT,(1995) chama-se diégese. No conto em questão temos o narrador em terceira pessoa, que também é conhecido como narrador observador, sendo o mesmo onisciente e onipresente, pois ele sabe e está em toda narrativa, para GENETT (1995) seu nível é extradiégetico, pois o narrador está fora da narração, e seu tipo pode ser heterodiegético ( que está fora da história). 

      Porém há passagens que podemos verificar o narrador intruso, que fala diretamente ao leitor. “...Você não da ideia do lugar que a traíra escolheu para morder o nosso herói. Ou será que faz?...”        ( ALMEIDA, 2015, p. 59) e “ ... Posso afirmar que a estória de Maneco Meio Pau não para aqui... e pode acreditar, vai ser muito interessante. Mas fica pra daqui a pouco)” (ALMEIDA, 2015, p. 63)

       Tempo: é cronológico, ou seja, acontecem de maneira linear e é posterior, pois a narração da história acontece e depois é contada. “Era conhecido como Maneco de Loura” ( ALMEIDA, p, 56)

Espaço, que se refere ao espaço físico da narrativa: interior da Bahia, especificamente Lagoa Seca, local que o autor retrata grande parte de suas narrativas. 
        Segundo (Vilares, 2002.p.10) O texto deve conter verossimilhança, pois mesmo o texto sendo de ficção/inventado, o mesmo deve ser verossímil, ou seja, o leitor deve acreditar no que lê, e essa credibilidade dá-se-a por sua organização lógica dos fatos, tal fato deixa o leitor adentrar na verdadeira fruição, como diz Roland Barthes em O prazer do texto (p.8), pois o leitor se entrega ao prazer da leitura do texto. Ainda em (Vilares, 2002. p.10) e de acordo com ela, digamos que o elemento estruturador do enredo é o conflito, logo é ele que dá vida e movimento ao texto, fazendo com que o leitor crie expectativas frente aos fatos do enredo.

Em relação à estrutura do livro, destacam-se nos contos e versos, figuras ilustrativas, realizadas por Joaquim Franco, nas quais sempre há referência aos contos abordados. No tocante à própria obra, trata-se segundo o autor, de completa ficção, e que para ele, fez parte de toda sua infância e adolescência em épocas em que sempre se reuniam para contar e ouvir histórias, pois naquele tempo não havia os meios de comunicação que hoje existem. No entanto, essas histórias ou causos eram de tradição oral.

Como a história do conto se passa em vilarejo, é claro que seus moradores conheciam um ao outro. Os personagens do conto em questão  são expostos como se fossem reais,  e ao lermos  suas histórias, identificamos características tão reais, que até acreditamos  que são de extração real, graças à capacidade do autor em transmitir seus sentimentos e emoções.


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Nalvo Franco de. Tesouro enterrado e outras estórias. Campo Grande: edição do autor, 2015.

BARTHES, Roland. O prazer do texto.Tradução J. Guinsburg. 6. ed. São Paulo. Perspectiva, 2015.

         GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. 3. ed. Lisboa: Vega, 1995.

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