quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Colcha de retalhos - contos diversos


A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE, MESMO QUE COBERTA DE TERRA

O sol amanhecera como de sempre. Forte e imperador, mas o homem não dá atenção a ele, mesmo que sabendo que dependia dele seu sustento, o homem, cabisbaixo, labuta na roça levantada em meio às grutas de sua “chácara”.  Tempo de seca. O sol castiga.  Na roça, gritos e estalos das folhas caindo, lascas se soltando das árvores secas. Sua criação, algumas vaquinhas, é quem lhe dá seu sustento do dia a dia, mas e agora José? Cadê a chuva? Cadê  a alimentação dos bicho. Cadê água? O único açude da chácara, secando, e os peixes, morrendo. O deus!!! Que vida triste em tempo de seca. O bicho sofre. A casa sofre. O homem cansa. Pobre homem, morre um pouco a cada dia. Porque ele mesmo dizia:
--- Em tempo seco, a vida é sofrida. Há quem diga que viver é sofrer. Desde que não seja seco, quem sabe. Mas como todo sertanejo, não vive sem a esperança, pois ela é o alimento de sua alma, suas proteínas invisíveis.
A família, sofrida, respira terra. Como matuta, sua mulher, Maria, sempre reclama da vida. Diz que tempo de seca os bicho morre por causo de ser castigo de Deus. No entanto José se atreve em dizer a Maria  que ela é uma desavessada. Que está de mau com Deus e por isso ele a castiga. Desconjurada, essa muié. Diz José. Esperançoso o homem continua a labutar em sua roça seca, a espera do choro de deus, que cairá dos céus.
No final do dia, em meio a terra, o vento, José e Maria voltam para casa. Cansados. Sujos, desterrados. E desesperados, pois por conta da ventania, suas vaquinhas se esconderam no meio da grota. Pobre do bicho. Pobre nada, agora vou ter que ir com essas bichas e dá de come pra elas. Maria. Mulher tinhosa. Deixe de reclama. Vou buscar as vacas, pra modo de eu dar de comer as bicha. Amanhã é outro dia. José conseguiu pegá-las, mas lascou seus braços no gravatá. Esqueceu-se de sua roupa de couro. Homem de Deus, só pensara nos bicho. No seu sustento.
A escuridão reina agora. A lua iluminava a casa de José, junto com umas lamparinas. O cheiro de óleo queimado será forte demais, mas não tinha energia elétrica. O jeito era dormir com os buracos do nariz grosso de fumaça. O cabelo então...
Mas o sertanejo aguenta o sol do dia no couro, a fome durante o dia. Só farinha e feijão de corda. E a noite, frio, luz da lua. Tendo uma tarimba boa para dormir, para que se preocupar em luxo. Eram um jovem casal. Tinham filhos? Não! Maria tinha seu ventre seco, assim com o dia em meio a ventania. Talvez seja por isso que sempre reclamava com deus. Era amargurada, sempre desavessada. Sertanejo tem sempre uma escadinha. Oxe. Deixe isso prá lá.
Os dias foram passando, morre uma vaca de José. Seca de fome. Pobrezinha, só tinha chifre e rabo. As costelas pareciam um mata burro. José sofre. E agora só lhe resta duas reis., e seu sustento agora se tornaria mais difícil. Numa conversa com Maria, mãe de deus e sua teimosa Maria, decide ir para outra cidade em busca de trabalho, comida e vivencia. Foram embora. O dinheiro das vacas deu pra encher um saco de feijão seco, farinha e umas carnes secas. Assim se alimentavam como dava.
Passaram-se os dias. A luz do sol queima o rosto de José. De Maria não porque lhe cobria o rosto. A bicha já era estranha, com uns panos na cabeça, e os poucos de dentes que lhe sobravam, Maria. Graveto andando e coberta. Como se não bastasse. Carregava na cabeça uma moringa com água pra beber no caminho. José carregava sua matula, com comida e um trabuco velho, que ele sempre dizia que usava pra mode se defender dos bicho. Mais dos urubus, que parecia sorrateiros a gente, esperando a gente cair no chão pra mode comer a gente vivo. Desconjurado esses bicho.
Para o casal dormir na noite fria do sertão foi necessário levanta uma tarimba no meio do mato, para se protegerem de animais peçonhentos. Maria sofria. Queria uma casa, uma cama boa. Queria um lugar bom pra se viver. Quando acordava, desiludia-se em lembrar que estava a esmo. Os dias foram passando, a comida acabando só não a esperança de José. Ao ir da tarde chegaram a Lagoa seca. Nome promissor para o sertão hein?!
Em lagoa seca, buscavam abrigo. Foram direto a igreja, agradecer a virgem Maria pela andança e conversar com o padre para que ele se oferecesse abrigo ate encontrar trabalho e casa. O padre, sem jeito, ofereceu-lhes, mas com a condição de Maria limpar a igreja nos dias de missa. Que pelo visto eram todos os dias. A igreja era pequena, pois neste vilarejo de lagoa seca, o povo era muito devoto. Queriam agradecer pelos dias de vida, pois viver no sertão é só para aqueles que sobrevivem ao sol, frio e a fome.
José, homem devoto, contente e esperançoso, ama sua esposa Maria, mesmo a danada sendo tinhosa. Com o passar dos tempos José arranjou emprego. Era cuidador de vacas de um senhor que morava também no vilarejo. José se lembrava de seus bichos da chácara e chorava. Mas sozinho, pois era sertanejo macho, e macho não chorava. Terra. Queria terra. Não terra a cara, nem pra mode ser enterrado, mas terra para viver. Terra para plantar. Vivo desterrado nesse mundão de meu deus. Sem filho, só com Maria, minha tinhosa. Sou feliz com ela, mas coitada, tosse todo dia por causa da terra. Já estou preocupado com ela. Tosse prá cá. Tosse prá lá. Remédio? Como? De quem? Só das benzedeira daqui.
--- Muié. Você melhoro das tosse.
Maria, cansada, responde em seu leito. Na tarimba arranjada pelo marido, agora moravam em um barraco dos dois, improvisado, sem vida, sem morte. Porque lá, nem a bicha quer visitar. Maria. Muié, você tá muito quente. Responde muié. Maria adoeceu. Pegara doença nos pulmões. Não, não fumava cigarro de palha, respirava muita terra. Bebia agua suja. Fazia muito fogo. Muita lamparina.
Passaram-se dois dias. José procura ajuda ao padre, como sempre e, também a seu patrão. Houve êxito, o padre foi abençoas Maria, e o patrão dar remédio, mas na casa de José, Maria já dormia eternamente, com o braço caído ao lado da cama. Sua mão fechada, cheia de terra e, João se impressiona quando nota que Maria estava com a boca suja e molhada. Talvez comera terra. Mas por que se a terra era para ela a desgraçada de sua vida. Suicido ou não José viúvo agora, desta vez há que enterrar sua desterrada esposa.
OLIVEIRA, Adriely B de. Colcha de retalhos - contos diversos, 2018.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

MODALIDADES DE ESCRITA

    
NARRAR, DESCREVER e DISSERTAR

 É de conhecimento que, tudo que se escreve e tudo que se lê é redação. Existem redações puras, que já conhecemos: narração, descrição e dissertação, mas também existem redações híbridas como a narrativo-descritiva, narrativo-dissertativa, entre outras.
Dessa maneira, apontaremos as modalidades de escrita e suas principais características de maneira breve, apenas para início de conversa:

NARRAÇÃO: É marcada pela temporalidade; quem relata fatos é o narrador, podendo ser narrador personagem, narrador observador e narrador onisciente, que conta tais fatos que ocorrem em um determinado tempo, por isso precisa recordar, imaginar e ser criativo. O texto narrativo é caracterizado pelos verbos nocionais (ações, fenômenos e movimentos).

DESCRIÇÃO: É marcada pela espacialidade. Aqui quem trabalha é o descrevedor, retratando entes localizados no espaço. O texto descritivo, diferentemente do narrativo que é rico em movimento, possui como característica principal o estático, podendo ser objetivo e subjetivo. É caracterizado por adjetivos. Para melhor entendimento, fazemos analogia do texto descritivo com uma fotografia, ou seja, é captado no ato da fotografia um fragmento da “realidade”, nesse sentido temos um texto sem “movimentação”, estático.
 
DISSERTAÇÃO: É  marcada pela racionalidade, isto é, temos no texto dissertativo o dissertador que expõe seus juízos de valores, opiniões e argumentos sobre determinados assuntos. O dissertador expões juízos estruturados racionalmente. Para isso, obviamente, ele precisa pensar, isto é, raciocinar. A trama dissertativa articula ideias, monta raciocínios e engendra teses.

                Que aprender mais?????? No próximo tema elucidaremos as três modalidades com mais ênfase.